Foi parte de minha função como Importador contratar serviços inerentes à importação e exportação.
Por isso, na minha rotina da época precisei reservar parte de meu tempo para me comunicar com os vendedores de empresas que me procuravam ou fazer a manutenção com aquelas que me atendiam.
O problema, como muitos sabem, é que existem diversas empresas e todas elas batalham para conseguir um lugar ao sol e marcar uma reunião com um cliente em potencial.
A maioria foi profissional e respeitou o procedimento que havíamos determinado para trabalhar com novas empresas. Afinal, tínhamos alguns requisitos e uma “fila” para ser justo com todos.
Mas uma pequena parte acabava incomodando bastante! Pois é, mesmo sendo poucos em quantidade, usavam estratégias que depois de um tempo começavam a irritar e, em alguns casos, causavam constrangimento.
Por isso quero compartilhar com vocês essa lista cujo embasamento é a minha vivência.
Aposto que vocês também têm uma, né? Enfim, acompanha aí na ordem da menos para a mais rançosa estratégia:
1 – Tenho uma coisa pra te contar
Eu não vejo nenhum problema em apelar para a curiosidade das pessoas. Convenhamos que todo mundo já brincou com alguém falando que tinha uma “baita novidade para contar pessoalmente”.
Só para ver a pessoa sofrer em agonia.
E mais! Convenhamos que essa ideia pode ser boa também para marcar uma reunião, normalmente para fofocar sobre o mercado ou mostrar um novo brinde muito legal (e aceitável dentro do compliance da empresa) que ficou pronto.
O problema é quando você cai nessa curiosidade e a novidade é uma porcaria que não vai mudar em nada a sua vida pessoal e profissional. Eu caí numa dessa e o exemplo abaixo é real:
– A novidade é que abrimos uma filial em São Paulo!
– Mas eu estou em Itajaí, seu operacional também e nem desembaraçamos carga em São Paulo…
– Mas, se precisar, agora estamos por lá também.
– Quem está lá?
– Dois vendedores.
-…
– E aí, bora me mandar uns processos?
Mais chato ainda é ficar aquele climão sem saber se a pessoa realmente acha isso uma baita novidade ou ela mentiu na caruda para conseguir uma reunião.
Enfim, a culpa é minha por cair na tentação! Bora para o próximo!
2 – Vou levar meu Diretor LATAM-BLA-BLA-FUCKING-AWESOME
Essa tática funciona muito bem para quem é vaidoso, especialmente com aqueles que estão parados no tempo profissionalmente.
O mais engraçado é que parece uma venda estilo Shoptime, na qual o vendedor que é subordinado desse Fucking Huge Director faz parecer ser uma oportunidade tão incrível e única como se tivessem revivido Michael Jackson ou Os Mamonas Assassinas para uma última turnê.
– Jonas você não vai acreditar! O meu diretor está vindo para a nossa cidade e está louco para conhecer você e onde você trabalha, me ajuda nessa? Ele só vai poder amanhã às 11 da manhã depois disso ele vai embora eu acho que só volta ano que vem. Por favor, me ajuda nessa!
Nessa estratégia tenho orgulho de dizer que nunca caí!
Mas uma vez eu aceitei de propósito porque tratava-se do pior agente de carga global com quem eu já trabalhei na minha vida e com o qual tinha o desprazer de trabalhar eventualmente nas importações prepaid.
Ok, passou meu momento desabafo, vamos ao próximo.
3 – Puxar o saco em eventos públicos
Reconheço e dou o braço a torcer para vendedores, pois eles precisam se comportar de uma forma amistosa que eu não sou capaz de fazer.
Só que há exageros e o pior é quando eles acontecem em eventos públicos como, por exemplo, em feiras, congressos ou outras situações eventos que costumam reunir a turminha do Comércio Exterior.
Para mim, o campeão é quando forçam uma intimidade que não existe, com abraços demorados e beijos no rosto, mão na cintura (me solta, p0rr4!) – tudo isso de forma exagerada e exaltada.
Pior ainda é se a pessoa não se liga que já chega e que eu quero ir para outro lugar: “por favor, deixa eu quieto no meu canto curtindo a palestra?”
4 – Puxar o saco quando estou no particular.
Essa é uma agravante da anterior, quando eu estou na minha vida particular, seja jantando com a minha esposa, passeando com meus cachorros…
Não estou dizendo que você não pode me dar um oi e trocar uma ideia rapidamente para me conhecer um pouco mais pessoalmente.
Mas nesses momentos não é hora de puxar o saco (na verdade, nunca é!) e talvez eu esteja com vontade de esquecer um pouco o Comércio Exterior quando não estou trabalhando. #pas
5 – Visita surpresa
Agora começam as estratégias que causam ranço forte.
E quero deixar bem claro que há uma diferença enorme nas frases abaixo:
A primeira opção demonstra que você está genuinamente checando se é possível ser recebido. Inclusive, uma vez a pessoa até levou uma cuca em agradecimento por recebê-la.
Mas o segundo cenário envolve me pressionar por se plantar na frente da portaria de onde eu trabalho e isso é de extremo mau-gosto.
Primeiro que você abusa da cordialidade das pessoas que evitam dizer não para quem já se deslocou. Não é o meu caso, quem me conhece sabe que eu mando as pessoas embora da minha casa se estou com sono.
Mas pessoas NORMAIS, em geral, sofrem por não saberem impor limites e isso é fato.
E o que mais me irrita nessa estratégia é que você não está preocupado com o meu tempo ou com o que eu estou fazendo nesse momento.
Sem contar que receber pessoas externas dentro de uma empresa grande envolve controle. Superiores e departamentos de compliance questionam visitas em cima da hora e com certeza eu não me queimaria por alguém que sequer se preocupou com o meu tempo.
6 – Visita surpresa com presente surpresa bem caro
Nada é tão ruim que não possa piorar, não é?
Senta que lá vem uma história real:
– Jonas, aqui é da portaria, tem uma moça da empresa WhateverComex querendo saber você pode recebê-la.
– Não posso, ela não marcou reunião comigo, certo?
– Não marcou… Ela perguntou, então, se pode recebê-la rapidinho só para entregar um brinde.
– Que brinde?
– É uma caixa com quatro vinhos dentro.
Nesse caso, mesmo que eu não tenha falado pessoalmente com ela e muito menos aceitado o brinde, precisei responder a superiores o que havia acontecido.
Pois as pessoas fofocam.
Essa foi a única vez que coloquei uma empresa de comércio exterior na geladeira por um motivo não relacionado à prestação de serviço.
Muitos ainda fazem isso tudo porque funciona!
Conto com o usual bom senso de vocês para entender que há exceções e que em alguns casos o ranço é evitado a depender de como a comunicação é feita.
Mas temos que admitir que situações parecidas com as que relatei ainda acontecem porque funcionam. Seja porque a pessoa é fofoqueira, vaidosa ou porque está fazendo coisa errada mesmo e aceitando o que não devia.
Ao mesmo tempo, admito que em alguns desses casos era evidente para mim que o vendedor estava desconfortável e com certeza estava fazendo aquilo por pressão.
E quando a pessoa se sente desconfortável fazendo algo questionável ou errado, imagino que internamente coisas piores aconteçam… Não?
E você, amiga(o)?
Essas estratégias te incomodam? Alguma incomoda mais que outra? Deixei alguma de fora?
E o que funciona para você que considera ético e bem-vindo? Vamos continuar a conversa nos comentários.