7 ações que me promoveram de Analista a Supervisor

De toda a minha experiência exercendo funções diretamente no Comércio Exterior posso dizer que não costuma ser (tão) difícil deixar um cargo de assistente/auxiliar para se tornar analista.

Em outras palavras, se a empresa e você são do tipo “tu trabalha e é correto, uma hora vem” (Marcelo D2).

No entanto, para deixar o cargo de analista a competição é bem maior e é complicado convencer a empresa que você vale o salário de um supervisor (ou coordenador, head… os nomes variam).

E sou um exemplo disso. Tanto que, no meu caso, isso foi possível apenas na terceira empresa em que trabalhei, na qual cheguei com a experiência e maturidade necessária para tal, numa oportunidade de trabalho cuja vaga estava acima de Analista.

Mas antes do tema:

Vamos deixar alguns pontos bem esclarecidos:

  • Trata-se da minha vivência na Operação e Despacho Aduaneiro de Importação;
  • Os nomes das hierarquias variam entre as empresas;
  • O que funcionou para mim pode não funcionar para você;
  • Minha história não é estatística e não acredito em meritocracia;
  • Não tem venda de curso ou mentoria ao final do texto;
  • Essa história não é de sucesso (entenda isso lendo até o final).

1 – Fazer política corporativa

Já dediquei um artigo inteiro para explicar por que eu entendo que não se vai longe no Comércio Exterior (e em nenhum segmento) sem política corporativa.

Nesse emprego em questão eu já estava experiente, calejado e devidamente ciente da importância da política corporativa.

Pois não há como crescer em empresas com diversos departamentos, dos quais uns dependem dos outros, através de imposição e exclusão.

Por isso fiz questão de me aproximar de todos que dependia e que dependiam de mim e um dos motivos que fiz isso foi para…

2 – Ensinar outros setores sobre Comércio Exterior

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Como esperado, o setor de Comércio Exterior era desconhecido e até desprezado por todos os outros.

E o problema disso é que não costumavam me envolver nos assuntos que influenciavam a importação e exportação.

Seja porque não faziam ideia que eu precisava saber ou porque achavam que eu podia ficar sabendo depois.

“Depois”, por exemplo, depois do embarque.

Enfim, Comércio Exterior é um grande trabalho em equipe que depende de outros setores internos para que as operações fluam da forma mais eficiente possível.

Por isso setores como:

  • projeto/PCP
  • financeiro
  • contabilidade/fiscal

Receberam diversas miniaulas para entenderem a importância do trabalho deles para que as cargas chegassem nas datas necessárias. Quando eu digo “miniaulas” não era nada formal, apenas o fato de sentar ao lado da mesa da pessoa e explicar é muito eficiente.

Tratou-se de um trabalho preventivo e que contribuiu na boa relação com os demais setores.

3 – Encarar muita briga

Por outro lado, claro, algumas pessoas não estavam dispostas a entender como o Comércio Exterior brasileiro funcionava e tentavam impor suas regras internas.

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Alguns pela preguiça de mudar, outros por simplesmente serem uns idiotas boçais (redundância?).

Acreditavam que cabia a mim obedecer, especialmente porque o meu setor tinha sido o último a chegar na turma do Administrativo.

Com esses poucos não teve jeito. Foi necessário escalar as tretas para a diretoria e transferir alguns dos prejuízos causados por eles para seus centros de custos.

Nada como uma demurrage ou um segundo período de armazenagem para ensinar uma única vez. 😊

4 – Participar de reuniões inúteis para me proteger

Naturalmente que mesmo fazendo a função de ensinar não era possível alcançar a todos de uma vez.

E sempre tem aquele espírito de porco que aproveita o desconhecimento de algumas pessoas, especialmente dos estrangeiros mandachuvas, para culpar a importação:

‘’Ah chefia, não comecei ainda porque a importação atrasou a chegada da peça.’’

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Minha reação quando ouvia isso.

Depois de algumas vezes tentarem colocar a culpa em mim e eu precisar na pressa comparecer em uma reunião (para a qual eu não tinha sido chamado antecipadamente) para prestar esclarecimentos (sem saber a qual processo aquela peça pertencia dentre as 70 importações), vi que era necessário me antecipar.

E fiz participando das reuniões semanais, devidamente preparado para desviar de todas as culpas que jogavam na minha direção.

O que não devia ser necessário, pois eu atualizava a todos semanalmente com um relatório por e-mail.

5 – Separar o joio do trigo das empresas de Comércio Exterior

Para as importações que meu setor precisava executar (setor esse que por muito tempo contava apenas comigo hahahaha), era necessário ter uma equipe com os seguintes prestadores de serviço:

  • Despachante Aduaneiro;
  • Agente de Carga;
  • Terminal Alfandegado (Marítimo e Aéreo); e
  • Transportadora Rodoviária.

Quem é do ramo sabe como encontrar tais prestadores de serviço é fácil. Muito fácil.

O problema é separar o joio do trigo.

E o “joio” a que me refiro nem contemplava a questão da qualidade de serviço, como: atendimento, follow-up, vai e volta de documentos.

Quem dera fosse isso! O joio que ferrava com meus processos, no entanto, eram as empresas que buscavam inflar os custos de formas muito criativas.

Ou seja, mau caráter mesmo.

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Certeza que vai ter maluco me chamando de comunista no privado.

E quando os fatos evidenciavam isso eu colocava a empresa “na geladeira”.

Afinal, empresas e seus profissionais podem melhorar naquilo que pecam através da experiência, mas não tem como um cliente ensinar a ser honesto…. na verdade, na minha opinião é bem difícil para qualquer um mudar isso.

E os casos de vacilos sérios nunca mais saiam da geladeira, pois entendo até hoje que, se existem tantas empresas de Comércio Exterior dispostas a fazer um trabalho honesto, por que devo perder meu tempo dando mais uma chance para quem tirou vantagem de mim?

6 – Resolver problemas recorrentes

O problema recorrente é aquele que de início não incomoda, algumas vezes sequer ligamos ou categorizamos como um problema.

Mas com o passar do tempo ele começa irritar, tal qual uma dobradiça barulhenta pedindo óleo, uma gaveta que não fecha ou aquele controle remoto com as pilhas fracas que compensamos apertando os botões com desproporcional força.

No trabalho podem ser as tarefas redundantes, tipo ter que salvar o mesmo documento em dois lugares diferentes.

Ou precisar de 5 assinaturas para que a importação receba os valores de seu numerário.

Sim, CINCO!, independentemente do valor.

Dessas, 4 não eram sequer brasileiros, só 2 entendiam de Comércio Exterior e apenas uma sabia explicar o que era um Despacho Aduaneiro.

Assinaturas a punho, óbvio.

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Eventualmente consegui reduzir para 3. Quando o valor fosse muito alto eram 4.

Apesar de problemas como esses parecerem pequenos (comparado a um canal vermelho ou embarque sem autorização), eles costumam afetar mais de uma pessoa, inclusive diferentes departamentos. Por isso que resolvê-los causa uma sensação positiva, mesmo que não seja mensurável em números.

7 – Apresentar números para provar meus resultados

Uma das sortes que tive nessa empresa é que eu tinha superiores que não decidiam questões sobre aumento e cargo com base em “puxassaquismo”.

Naturalmente que as Soft Skills no trabalho contavam, mas, em suma, a decisão de me dar um aumento estava associada principalmente aos números entregues, referentes à logística e o Comércio Exterior.

O problema é que não existia um sistema para registrar esses números resultado do meu trabalho.

Por isso o Excel era meu melhor amigo e, em questão de sistema, meu único amigo.

E graças a blogs, YouTube e uma colega da contabilidade que manjava muito, consegui fazer uma planilha que respondia dúvidas como:

  • Valor total comprado de mercadoria importada x custo total para importar, por projeto;
  • Peso dos custos de importação conforme o Valor Aduaneiro;
  • Peso total dos custos de importação por projeto;
  • Performance de Terminais alfandegados (especialmente com as vistorias do MAPA);
  • Quanto mais caro era Importar Prepaid, comparado com Collect (importante esse);
  • Tempo médio da coleta da carga até o embarque;
  • Parametrização das importações por ano;
  • Tempo médio, em dias úteis, para realizar o Despacho Aduaneiro (abaixo).
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Da esquerda para direita: LCL, FCL e Aéreo

Esse demonstrativo acima também se fragmentava em terminais alfandegados, por mês…

Enfim, com a redução de tempo para importar e de custos, pude provar com números que eu não estava apenas executando as importações, mas também buscando reduzir custos e otimizar toda a logística.

***

A conclusão que chego é que não há nada de impressionante no que foi feito.

A bem da verdade, essa última ação de provar com números meu trabalho entendo que é a principal para quem analisa friamente quem merece ou não ser promovido.

Porém, o sucesso desses números não teria sido alcançado se não tivesse me dado bem com os demais departamentos, participado das brigas certas e separado o joio do trigo das empresas de nosso segmento.

Novamente, essa é minha história e nem é lá uma de sucesso, pois não mencionei os vacilos e estou fazendo apenas um recorte dela.

A propósito, quando me tornei supervisor continuei ainda uns bons meses sozinho no departamento, ou seja, Supervisionando meu trabalho de Analista! 

Sem contar que poucos anos depois deixei o cargo de Supervisor para ser promovido a Desempregado kkkkkkkkkk papo para outra hora.

E você, amiga(o)?

Temos algo em comum que deu certo para você? Tem alguma sugestão? Discorda de algo? Vamos continuar a conversa nos comentários.

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