Está todo mundo errado no assunto tributação de compras internacionais.

Mesmo que minha experiência no Comércio Exterior seja na importação empresarial, também sempre lidei com importações courier (para não chamar de remessa expressa o tempo todo), pois – como já expliquei em outros artigos – ela é a melhor opção em certos casos.

Além de que, tenho bastante experiência na importação courier nas compras internacionais pessoais, compro de sites chineses (além do e-Bay) desde o dia 07 de Maio de 2010.

deal extreme 1

Quem mais aqui é da época do Deal Extreme? (Não me deixem só!)

Estou contando essa história inicial pois era bem mais complicado e inseguro comprar naqueles tempos se comparado a hoje, e vou listar alguns motivos:

  1. site todo em inglês (e incorreto);
  2. única forma de pagamento era cartão de crédito internacional (que na época ainda exigia ir pessoalmente ao banco para ativar ou, ao menos, ligar na central);
  3. prazo mínimo de 2 meses para chegar na sua casa;
  4. se reclamasse da compra (seja por vir o produto incorreto ou não vir nada, at all), dificilmente receberia o dinheiro de volta.

Ou seja, existiam barreiras não tarifárias bem desanimadoras para as Pessoas Físicas.

Mas a tecnologia, globalização e cadeias de suprimentos evoluíram nesse segmento a ponto de virarem um dos assuntos mais importantes do momento.

E, a meu ver, todos estão errados na forma em como estão tratando do assunto.

Desde sempre observamos incorretamente a legislação sobre a tributação de compras internacionais

A “legislação” que fala de limite de USD50,00 é uma Instrução Normativa (IN). Mas há um Decreto-Lei (que sobrepõe à IN) que determina limite de USD100,00 e não exige que seja remessa entre Pessoas Físicas.

Como não é o foco do artigo, vou deixar o link aqui para quem quiser saber mais.

Os pseudo-influencers estão desinformando ainda mais sobre o assunto

Para começar que é tributação, não taxação – Imposto de Importação não é taxa. Posso tolerar o uso incorreto da terminologia do público geral, mas apenas de quem não é do Comércio Exterior.

Exagero de minha parte? São detalhes assim que vão pouco a pouco desvalorizando nosso trabalho . Se você discorda, fica à vontade para comentar ao final.

Mas, como se não bastasse, já começaram os títulos click-bait, como:

  • “O fim da Shein e Ali Express” – como se a existência deles fosse sustentada pelo consumidor brasileiro;
  • “Nova taxa sobre compras internacionais” – não tem nada de novo aqui, só tão passando um pente fino mesmo;
  • “Mudança na taxação vai impactar o consumidor” – exceto pelo termo “taxação”, o governo não está errado, mas é claro que o consumidor é quem vai pagar qualquer aumento, não importa se vão cobrar o II no momento da compra ou quando ela chega no Brasil.

Os e-Commerces asiáticos agem de má-fé, sim.

De forma resumida, as regras da Instrução Normativa dizem que há isenção nas compras internacionais de até USD50,00, desde que o comprador e vendedor sejam Pessoas Físicas.

Não precisamos do Fantástico investigando para saber o que esses e-Commerces fazem. Foram diversas remessas que recebi contendo uma Fatura Comercial alegando que o exportador era uma Pessoa Física.

E se o valor supera os 50 Bidens, eles declaram abaixo disso justamente para ficar no limite da isenção.

Não que seja exclusividade asiática, mas sabemos que a turma lá está disposta a ‘dar seus pulos’ para garantir uma venda.

O importador empresarial de produto asiático que nunca recebeu folhas em brancos assinadas pelo exportador chinês ou vietnamita, que atire a primeira pedra.

Nós consumidores também agimos de má-fé.

Afinal, recebemos a mercadoria dessa forma, não reclamamos com o vendedor e continuamos comprando (seja para consumo próprio ou revenda – que é mais errado inda). Então, sim, também somos culpados da situação.

Por isso me questiono: se fosse declarado e recolhido o imposto corretamente desde sempre, será que estaríamos hoje discutindo o tema?

Sim, eu visto a carapuça também! Como vocês viram, estou comprando desde 2010 e obrigado Shein (não é Publi, ainda chego lá hahahaa) pelo lindo casaco marrom terroso que custou 1/3 do valor de um vendido no Brasil e foi muito utilizado em minha última viagem.

Não é justificativa, mas não poderíamos ligar menos para isso, ainda mais diante de nossa carga tributária brasileira, pesada e complexa, se é normal não vermos nossos impostos bem aplicados.

Isso que falo por mim. Naturalmente, tenho uma condição social confortável para não ficar mal-vestido (obrigada, Patrícia e Erika, por cuidarem disso), tampouco passarei frio caso tudo venha a ser tributado, mas essa não é a realidade da maioria brasileira.

As varejistas brasileiras pediram uma solução protecionista.

Os varejistas que estão desde a metade de 2022 reclamando do assunto, poderiam ter pressionado para que o Imposto de Importação e o IPI fossem reduzidos na importação empresarial e eles pudessem se manter competitivos no preços.

Sim, há mais impostos na importação, mas esses 2 são os mais fáceis de reduzir, comparado com os outros tributos.

Mas escolheram novamente o caminho protecionista que inevitavelmente encarecerá tudo para todos os consumidores de e-commerces internacionais.

Não sei se por viés protecionista ou porque esse é o caminho mais fácil de encontrar uma solução, o que sei é que estamos perdendo uma oportunidade de reduzir nossa carga tributária.

Imaginechina/Corbis
Fonte Imaginechina/Corbis

O Governo atual está resolvendo de forma protecionista

O motivo pelo qual o governo anterior não tratou do tema no segundo semestre de 2022 é porque diz respeito a um assunto extremamente impopular.

Mais impopular, a meu ver, que aumentar preço do combustível.

E por isso o governo atual está tratando disso agora, para que esqueçamos até as próximas eleições.

Enfim, independentemente de quando fosse feito, qualquer governo apelaria para a solução protecionista, pois ela está tão enraizada no Brasil que supera até mesmo ideologias políticas.

Governos não conseguem competir contra tecnologia (e toneladas de dinheiro)

Lembram quando a Uber chegou no Brasil? Ela foi agressiva em convencer as pessoas a testarem os seus serviços o mais rápido e no maior volume possível.

E dentre os segredos do sucesso estava a tecnologia e queima de caixa.

Tecnologia, pois sempre foi um app de serviço fácil de usar. E queima de caixa pois não é segredo que a Uber utilizou o próprio dinheiro para que no início o serviço fosse mais barato ainda.

Houve percalços, polêmicas, legislações, protestos, taxistas quebrando carro de motorista do aplicativo, mas a Uber e outros similares continuam fazendo parte de nossa realidade.

Não teve legislação que impedisse a chegada da Uber e acredito que essa briga com as e-commerces asiáticas será parecida, mesmo que aqui o foco seja produtos.

Seja lá qual for a solução protecionista aplicada, elas darão um jeito de contornar.

E você, amiga(o)?

Como você acredita que o governo irá resolver a situação? Será efetivo? A tecnologia vai contornar a situação? Vamos continuar a conversa nos comentários!

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