Voltamos com a Parte 2 do texto que parece uma lavação de roupa suja, mas tem como objetivo explicar para a turma do Comércio Exterior todos os problemas que podem ocorrer, dentro do cliente, que acabam tornando um embarque urgente.
Isso antes mesmo do setor interno de Comércio Exterior sequer cogitar imaginar que a mercadoria era necessária.
Ou durante a importação em si, para dar aquela arritmia gostosa que nos faz sentir vivos.
Se não leu a Parte 1, o link estará no final, não é necessário ler na ordem 😉
Bora para o desabafo texto.
Logística
Este departamento costuma ser o responsável por contratar e supervisionar a logística dentro do território nacional.
Pode ser para demandas internas, como alugar guindastes ou empilhadeiras para prestarem um serviço dentro da planta, ou externas, alugando armazéns ou contratando caminhões para transporte rodoviário.
Este último exemplo inclui trabalhar em conjunto com o setor de Comércio Exterior para que as mercadorias nacionalizadas sejam coletadas dos terminais alfandegados o quanto antes, com o veículo apropriado.
Como que na mão deles vira urgente?
A verdade é que mercadorias que não são perigosas e nem superdimensionadas raramente viram urgente, exceto se a contratação do caminhão costuma acontecer via ligação, WhatsApp ou através de um e-mail safado feito de qualquer forma.
Nesses casos, o culpado é a falta de formalização e procedimento.
O que deixa a operação tensa são os transportes que demandam carreta rebaixada, com restrição de horário para circulação e/ou algum guindaste especial para descarregar. Se algum desses falhar nos horários, o relógio não perdoa e as chances de morrer na praia são maiores.
Há também o clássico caso da Logística mandar descarregar o container do caminhão para depois devolvê-lo vazio.
E o “depois” leva 10 dias e isso só porque a pessoa do setor de Comércio Exterior viu o container no pátio e teve a impressão de já ter visto aquela numeração antes.
Tranquilo, Demurrage é cobrado em dólar…
Financeiro
Importar é bem caro, mesmo que consiga reduzir as quantidades num LCL (que raramente compensa) ou embarcando aéreo.
Mas, além de caro, é preciso pagar diversos envolvidos antes, durante e após a chegada da mercadoria.
E assim como estes envolvidos e o setor de Comércio Exterior precisam estar cientes da política de pagamento do seu financeiro, este também precisa se adequar à realidade ágil de uma importação.
Sem contar que movimentar dinheiro costuma exigir mais burocracia que a maioria dos demais procedimentos internos.
Como que na mão deles vira urgente?
A depender do quão grande e experiente você é no Comércio Exterior, quanto mais sua operação depende de um pagamento para acontecer, mais ferrado dependente do financeiro você será.
Pois pode ser necessário pagar para:
- coletar a mercadoria pronta;
- receber os originais do processo;
- registrar a DI/DUIMP (esse não tem como fugir);
- liberar o conhecimento de embarque;
- pagar o porto/aeroporto para retirar a carga.
Agora imagine todas essas etapas dependendo do pagamento ser realizado por um Financeiro engessado, que exige mitrocentas assinaturas por pagamento e que tem regras rígidas de realizá-los uma vez por semana apenas.
Levar UMA semana para pagar o exportador num embarque aéreo significa dizer que a importação vai levar menos tempo que a burocracia de pagamento.
O problema aqui não são falhas e sim procedimentos engessados que favorecem apenas o lado que os criou.
E para mudar esses procedimentos leva-se tempo e muita comunicação e política.
*Só não é 10 porque bem conversadinho com os envolvidos é possível fazer acontecer com maior celeridade. Enfim, se um setor ou profissional de Comércio Exterior quer ter sucesso, precisa ser amigo do Financeiro.
Contabilidade/Fiscal
Lidamos com diversos tributos e burocracias no Comércio Exterior, mas na realidade da Contabilidade essa é uma pequena parte de todas as suas funções.
São poucos os setores que não precisam se reportar a eles ou que não tenham responsabilidades compartilhadas.
Tanto que é comum conflitos de responsabilidade entre esses setores e o de Comércio Exterior, especialmente nos assuntos:
- Classificação Fiscal;
- Descrição de Mercadoria;
- Aplicação de Regimes Aduaneiros Especiais;
- Aplicação de Benefícios Fiscais.
Como que na mão deles vira urgente?
Mesmo que estejam envolvidos com diversos setores, é raro ver Contadores de formação que dominem, ainda que só na teoria, como funciona o Comércio Exterior.
Tanto que nos conflitos oriundos da cadeia de responsabilidades, se precisarmos aguardar para que classifiquem uma mercadoria ou vejam a capacidade de aplicar um benefício fiscal de importação, é provável que levemos um chá de espera.
Mas ninguém diz para o setor Contábil que a fábrica vai parar e a culpa é deles.
O resultado é que, assim como no caso do setor Financeiro, este costuma tornar as importações urgentes em razão de procedimentos engessados que não consideram a realidade do Comércio Exterior.
Tanto que é bem comum um setor Contábil exigir prazo de 24 horas para emitir uma Nota Fiscal de Entrada.
Agora imagina aguardar isso tudo para uma importação que desembaraçou na quinta às 16h00 e o primeiro período de armazenagem vence no sábado.
Em tempo, uma observação: se uma empresa demora para emitir Nota Fiscal por falta de sistema, ela está, no mínimo, e para ser gentil, 10 anos atrasada em tecnologia.
Diretoria
Raros os casos que vivi ou soube de um setor de Comércio Exterior na indústria e comércio que não reportasse diretamente à diretoria.
Não porque ele não pertença ao departamento de Suprimentos ou Supply Chain, mas porque a maioria não entende de Comércio Exterior e ninguém quer a bucha responsabilidade de cuidar de algo que não entenda.
Aí normalmente sobra para um Analista, que não tem Coordenador ou Gerente acima dele, prestar contas diretamente com à turma da poltrona confortável.
Como que na mão deles vira urgente?
O problema começa quando a diretoria não atua como o cargo sugere, pois não conseguiu deixar de ser operacional e centralizador.
Daquele tipo que NADA pode ser feito sem a benção dele.
Ou seja, para a importação andar, precisa de uma assinatura ou um ok via sistema ou e-mail para, por exemplo:
- comprar – sendo que você tem de 3 a 5 cotações;
- para pagar a compra – que acabou de ser aprovada;
- para pagar os tributos da importação – como se o valor devido fosse decidido por uma pessoa exclusivamente.
Isso quando não entram numa reunião que dura 4 horas (isso não é reunião é uma partida de RPG!) e não podem ser incomodados para aprovações.
Novamente, momento panos quentes.
Especialmente para você que não leu a Parte 1.
Muitas das razões apresentadas, às vezes, sequer são culpa do departamento acima especificado.
O que trouxe aqui são exemplos com base nas minhas experiências (que variaram conforme a empresa) e alguns que colegas da área me contam, nada disso é uma verdade absoluta.
E eu sei que não sou perfeito e muito provavelmente também fui o gargalo dos outros. 😊
Por isso é importante estarmos atentos aos processos e rotinas do cotidiano, pois eles podem ser gargalos tão prejudiciais quanto uma crise de falta de containers ou a sua mercadoria encalhada no Canal de Suez.
E você, amiga(o)?
Se incomodava mais com esses departamentos ou aqueles citados na Parte 1? Sente que as rotinas simples são difíceis de mudar? Deixa aqui sua opinião que com certeza vai agregar a todos nos comentários.
Se quiser ler a Parte 1 para conhecer os outros departamentos, clique aqui.