Teve uma época na indústria naval que precisei conversar com alguns portos secos da região para nos atenderem com algumas importações específicas.
Não havia tanta variação entre as informações e valores recebidos, exceto por alguma questão de estrutura, equipamento e capacidade de armazenar certos tipos de carga, mas teve uma que se destacou.
Aparentemente no início pelo preço, até começar a analisar o que constava no documento.
Primeiro que o pdf deles era bem maior que o de seus concorrentes, especialmente as diversas páginas com letras miúdas… bem naquele estilo cansativo de ler que nos leva a ignorar e clicar de uma vez em “Aceito as Condições e Termos de Uso’’ do aplicativo.
O pior é que ao começar a simular os custos de uma carga em tal recinto alfandegado, tive dificuldade logo no início para saber quais custos deveria considerar.
O documento não era nada transparente. Parecia mais fácil calcular os impostos de importação com um ábaco.
Após diversas ligações e e-mails com o comercial, consegui estimar o valor e pude negociar comparando com as demais propostas.
Comecei solicitando a remoção do custo “Seguro da Carga” (algo em torno de 0,2% do CIF), pois eu já tinha uma apólice que cobria toda a logística.
Depois disso, recebi uma nova proposta com o custo de armazenagem 0,2% mais caro.
Coincidência? Vai Vendo.
Ainda com paciência, expliquei que notei o aumento do valor e que isso inviabilizava dar prosseguimento na negociação, comparado com os demais.
Depois disso, recebi uma nova proposta com um desconto de 0,2% da armazenagem.
Ótimo, essa nova proposta voltava a ser competitiva, bora dar aquela lida carinhosa nas letras miúdas.
Foi quando lááááá no meio de mar de letras miúdas me deparo com a frase que não estava nas propostas anteriores:
Desisti de continuar a negociação, obviamente.
Até porque isso não era mais negociação, estavam me fazendo de idiota, afinal, se não consigo sentir confiança nessa etapa, imagine como seriam nas demais.
A diferença entre conferir e confiar.
Entendemos completamente que o Comércio Exterior é complexo e muitas vezes essas infinitas páginas com letras pequenas nas propostas comerciais são necessárias…
Se essas letras pequenas ainda estivessem presentes em todas as cotações e qualquer mudança fosse avisada por quem vende, trabalharíamos num cenário previsível e com alertas a respeito do que está sendo alterado.
Naturalmente, quem compra tem a responsabilidade de conferir tudo, por fins de conformidade, afinal, todos os documentos e comunicações precisam estar em sintonia.
O problema está em quando não confiamos em quem nos atende.
Causado por um trauma de prestadores de serviço que muitas vezes praticam preços baixos só aguardando seu cliente parar de conferir e começar a confiar para meter aquela “taxinha demonho” por container – aquela que vai garantir o lucro de todas as operações anteriores que saíram a preço de custo.
Que inferno é trabalhar desconfiando o tempo todo dos outros!
E é nessa angústia que imagino o oposto:
E não apenas confiar que está correto, mas confiar que, se não estiver, o responsável irá ser proativo e justo para assumir a bronca de forma que o fluxo operacional continue da melhor maneira possível.
Seria tanto tempo economizado que eu até poderia acreditar ser possível uma semana com 4 dias úteis (um dia, quem sabe, mas não já).
Existem pessoas assim, elas não são apenas incríveis, elas são inesquecíveis.
A gente sabe quando o erro é inocente e quando não é.
É difícil colocar em palavras, pois é algo que se desenvolve na experiência.
Mas sabemos a diferença entre um erro inocente, causado por falha de sistema ou comunicação entre departamentos, daquele que encontramos porque o sentido aranha nos disse para conferir as letras miúdas uma última vez.
Mas uma regra que carrego comigo é:
Você tem uma regra assim? Compartilhe nos comentários.
Certificações não são sinônimos de total integridade.
Primeiro porque é preciso analisar a quem determinada certificação beneficia.
OEA torna a empresa confiável para a Receita Federal e alguns órgãos anuentes. Normas ISO criam procedimentos internos que geram integridade interna.
Sei que seria ignorante e até desrespeitoso de minha parte afirmar que estas empresas não merecem maior confiança, afinal, trata-se de certificações que requerem bastante empenho para obter e manter.
Faço questão de dizer “manter” pois vimos ano passado grandes empresas da área perdendo o seu certificado OEA.
Por isso que não podemos terceirizar completamente nossa confiança em certificados.
Pessoas são mais confiáveis que empresas.
Parei aqui para pensar com quais empresas trabalhei como cliente que mais confiei e na minha cabeça vinha o nome.
Mas o que mais me marcou foram as pessoas, pois a integridade chama a atenção.
E quem é íntegro vaza de empresas sacanas assim que possível. E quem busca trabalhar com gente certa, não esquece de quem possui essa virtude.
E você, amiga(o), confia mesmo nas empresas de Comércio Exterior?
Confia em poucas? Muitas? Confia só nas pessoas? O que lhe mostra ser confiável desde o primeiro contato?
Conto contigo para continuarmos a conversa nos comentários. 😊