Não, esse texto não vai discutir partidos políticos, eleição ou candidatos… É sobre POLÍTICA CORPORATIVA*
Foi num dos estaleiros em que atuei que comecei a aprender sobre política corporativa ao analisar como um colega de trabalho agia no ambiente corporativo.
Vê-lo se relacionar com superiores e outros departamentos, ainda mais no ambiente desagradável que pode ser um estaleiro, era como ver em ação o que Sun Tzu, Maquiavel e Robert Greene escreveram.
Pois ele conseguia tudo que precisava.
E diferente do que alguns autores mencionados acima pregam, ninguém saia prejudicado ou sentindo que tinha levado uma rasteira.
Política é uma arte presente também na esfera privada e negligenciá-la pode acabar se tornando o principal motivo de sua estagnação.
*O conceito de Política Corporativa é outro, mas é comum chamar assim o jogo de poder que existe dentro e entre empresas, por isso utilizarei o termo.
Você faz política no seu trabalho, mesmo não querendo.
Como no início da carreira nosso foco está em executar e aprender as competências técnicas, é possível que por um tempo você ainda “fique na sua” para aprender os fundamentos do seu trabalho.
Aquelas tarefas repetitivas, sabe? Conferir documentos, mandar e-mail, atualizar status, algumas etapas do despacho aduaneiro…
Mas basta lhe darem um pouco mais de responsabilidade pelo mesmo salário kkkrying para que passe a fazer política corporativa.
Você e sua equipe nas reuniões online que podiam ser um e-mail.
Pois como o Comércio Exterior é um grande trabalho em equipe movido por instruções, documentos e solicitações entre os envolvidos, não demora para que tal dinâmica lhe faça interagir com outros profissionais.
Pois bem, e precisamos executar nossas responsabilidades para que os outros executem as deles e vice-versa, e sucessivamente e até ao mesmo tempo…
Essa delícia que é o Comercio Exterior.
Enfim, quando esse fluxo de trabalho falha, seja por “culpa” de um dos envolvidos ou de um dos infinitos imprevistos de nossa área é que entra a necessidade de comunicação com diversos envolvidos a fim de resolver o problema.
E assim você é introduzido na Política Corporativa sem antes nem te levarem jantar.
Quanto mais você cresce, mais a política corporativa é necessária.
Todo mundo que recebe visitas comerciais de empresas de Comércio Exterior ouve bastante essa frase:
“Claro que os erros acontecem, mas nos destacamos em saber como resolvê-los.”
Verdade, alguns se destacam tanto que vão direto para a geladeira.
Porém a frase não deixa de ser verdadeira: ter sucesso na política corporativa nesse insano cotidiano operacional vai contribuir para que você alcance cargos de liderança.
E aí que o bicho pega.
Pois agora terá que participar daquelas maravilhosas reuniões de departamentos, onde você e outros líderes tentam meter no do outro prestam contas e apresentam temas a solucionar, na presença da gerência/diretoria que curte as tretas comendo pipoca.
E mesmo nas reuniões mais civilizadas, com poucos ou nenhum colega Pavão e Puxa-Saco/Tapete (se você der sorte), a tensão ainda é presente.
Enfatizo aqui: Todo Puxa-Saco é um Puxa-Tapete.
Conto contigo nos comentários para reforçar esta afirmação.
A tensão não cessa pois são nessas reuniões que rolam as:
- Solicitações – Por favor, pode me fornecer os dados desse jeito? Vai me economizar muito tempo.
- Demandas – É preciso receber a informação desse jeito, do contrário, não consigo fazer minha parte!
- Cobranças – Quando que vai embarcar?
- Apontar de Dedos – Eu fiz errado porque recebi errado!
Enfim, assim que você se envolve em um ou mais desses 4 casos, qualquer que seja o lado da situação (fazendo ou levando), o jogo do poder está rolando e o vacilo sempre gera consequências.
A não ser que todos estejam assim
Afinal, ceder a uma solicitação pode lhe proporcionar alguma moral com quem solicitou, mas também pode gerar mais trabalho para você e sua equipe.
Lembre-se: trazer à tona uma demanda sem embasamento vai lhe enfraquecer e contribuir para sua fama de “inexperiente”, bem como de “perdido” por cobrar algo na hora errada (especialmente se você for pavão).
Sem contar que, se estiver errado no “apontar de dedo” vai se queimar tanto com quem você acusou como com todos os outros – por ter sido o frouxo que não admitiu a culpa.
Mesmo que achasse de verdade que a culpa era de outro.
Quanto mais você cresce profissionalmente, mais as Soft Skills ganham importância.
Independentemente do nome bonito do cargo de líder, ele é conquistado porque você provou suas qualidades técnicas (Hard Skills) quando ainda no início da carreira.
Vamos ignorar os casos de ser parente do dono ou um excelente Puxa-Saco de chefe inseguro.
E com certeza continuarão importantes, mas as virtudes (Soft Skills) vão se tornar mais.
Pois os momentos mais sensíveis de política corporativa acontecem ao vivo, seja pessoalmente ou numa reunião online.
Claro que eles também precisam ser aplicados no e-mail ou WhatsApp, mas quando o assunto está tenso em razão de sua gigante importância, a conversa em algum momento sairá do texto e passará para o ao vivo.
E dependendo de como estão os nervos dos envolvidos, seja pelo prejuízo ou porque muitos dedos já foram apontados, será necessário ter cockroach blood.
Do português: Inteligência Emocional, para saber ter o autocontrole sobre quando é ou não é hora de:
- escutar, que é diferente de ouvir;
- contestar;
- admitir;
- contribuir no assunto CONSTRUTIVAMENTE; e
- ter empatia.
É facílimo ler e escrever sobre isso tanto quanto é dificílimo pôr em prática.
Essa política não se limita às paredes de sua empresa.
No Comércio Exterior a política corporativa entre empresas começa lá naquela fase em que ainda exercemos cargos iniciais, no trabalho operacional interdependente (antes de tudo, inclusive).
Isso porque, importante levar em conta: representamos nossa empresa perante os parceiros e clientes com os quais tratamos.
E aqui é que temos a oportunidade de corrigir uma fama ruim ou enaltecer uma qualidade já reconhecida.
Não estou dizendo que você, enquanto pessoa, se resume ao seu trabalho e ao nome da empresa em que atua, mas isso vai refletir na sua carreira – seja por conta de um cliente elogiando seu trabalho para seu superior ou por um prestador de serviço lhe recomendando para alguma empresa com vaga em aberto.
Mais um motivo para saber fazer política tanto interna quanto externamente.
Sabe esse Agente de Carga ou essa Trading Company que trabalha para a sua empresa a vida toda? Eles podem ter muita força para fazer você rodar.
Quanto mais você cresce mais é preciso pensar nas consequências.
Quem atua em grandes empresas em cargos de Gerência, Diretoria, ou como proprietário mesmo, sabe que existe uma pressão diferente de quando apenas cuidava das importações e exportações.
Nesse patamar vários bichos pegam e pegam ao mesmo tempo, pois, guardadas as devidas proporções, é parecido com o que vemos na política internacional.
Suas decisões importantes afetam muita gente: sócios, colaboradores, parceiros, compradores, vendedores, clientes…
E, por estarmos falando de Comércio Exterior, não se restringem ao Brasil e, assim como na política internacional, essas decisões vão agradar alguns e desagradar outros.
Então, além de precisar pensar uns 5 passos à frente sobre a consequência de cada decisão, é necessário prever quem sairá mais afetado.
Quanto maior a decisão, menos ela irá agradar a todos.
Depois de administrar as consequências de suas decisões (com mais política corporativa), é preciso viver com elas, mesmo que tenha decidido na melhor das intenções, respeitando Compliance e ESG.
Se a política corporativa é inevitável, faça bem-feita.
Mesmo que tenha preferido o caminho da Especialização ao invés de altos cargos de liderança, há êxitos em seu cotidiano que dependem dos outros e isso vai demandar política corporativa.
Afinal, ser o bichão das Hard Skills não basta para crescer e muito menos para garantir o emprego, e como existem profissionais assim no Comércio Exterior.
Agora quando o profissional domina as balinhas Soft e Hard Skills ao mesmo tempo, este naturalmente já entendeu a necessidade da política corporativa.
E dificilmente alguém vai segurá-lo.
E você, amiga(o)?
O que tem a contribuir no assunto? O quão presente é a Guerra dos Tronos política corporativa no seu trabalho? Gosta? Desgosta? Faz porque é necessário? Vamos continuar o papo nos comentários.